sexta-feira, 19 de junho de 2009

Fique Esperto - Aids e Gravidez - Fernanda e Fátima



A gravidez na adolescência é um problema de importância na maior parte dos países subdesenvolvidos. O fenômeno no Brasil tem se mostrado estabilizado numericamente para a faixa de 15 a 19 anos, com tendência de crescimento no primeiro segmento da adolescência, abaixo de 15 anos de idade. Significativa maioria das gestações é indesejada, com repercussões médicas, psicológicas e principalmente sociais. As desvantagens säo mais claras para adolescentes multíparas. Destacam-se como conseqüências imediatas da gravidez indesejada o aborto clandestino, a falta de cuidados pré-natais, a desestruturaçäo pessoal e familiar, a adoçäo e o abandono. Sugere-se políticas de intervençäo para reduçäo do fenômeno através de programas de educaçäo sexual, serviços para atendimento especial para adolescentes, acesso a orientaçäo e métodos contraceptivos, apoio para prosseguimento das gestações até o termo

A gravidez precoce está se tornando cada vez mais comum na sociedade contemporânea, pois os adolescentes estão iniciando a vida sexual mais cedo.

A gravidez na adolescência envolve muito mais do que problemas físicos, pois há também problemas emocionais, sociais, entre outros. Uma jovem de 14 anos, por exemplo, não está preparada para cuidar de um bebê, muito menos de uma família. Com isso, entramos em outra polêmica, o de mães solteiras, por serem muito jovens os rapazes e as moças não assumem um compromisso sério e na maioria dos casos quando surge a gravidez um dos dois abandona a relação sem se importar com as conseqüências. Por isso o número de mães jovens e solteiras vem crescendo consideravelmente.

É muito importante que haja diálogo entre os pais, os professores e os próprios adolescentes, como forma de esclarecimento e informação.

Mas o que acontece é que muitos pais acham constrangedor ter um diálogo aberto com seus filhos, essa falta de diálogo gera jovens mal instruídos que iniciam a vida sexual sem o mínimo de conhecimento. Alguns especialistas afirmam que quando o jovem tem um bom diálogo com os pais, quando a escola promove explicações sobre como se prevenir, o tempo certo em que o corpo está pronto para ter relações e gerar um filho, há uma baixa probabilidade de gravidez precoce e um pequeno índice de doenças sexualmente transmissíveis.

O prazer momentâneo que os jovens sentem durante a relação sexual transforma-se em uma situação desconfortável quando descobrem a gravidez.

É importante que quando diagnosticada a gravidez a adolescente comece o pré-natal, receba o apoio da família, em especial dos pais, tenha auxílio de um profissional da área de psicologia para trabalhar o emocional dessa adolescente. Dessa forma, ela terá uma gravidez tranqüila, terá perspectivas mais positivas em relação a ser mãe, pois muitas entram em depressão por achar que a gravidez significa o fim de sua vida e de sua liberdade.
Por Eliene Percília
Equipe Brasil Escola


Em 1990, quando iniciamos o trabalho de prevenção ao HIV nas escolas públicas e noturnas da Cidade de São Paulo, somavam-se 8859 casos de brasileiros com Aids, metade deles infectados pela via da transmissão sexual, 85% de homens, e as previsões para o ano 2000 eram catastróficas: esperavam-se mais de um milhão de brasileiros infectados. Ainda vivíamos sob a hegemonia de uma visão sobre a epidemia carregada de moralismos, que definia "grupos de risco" ("os" homossexuais, trabalhadores do sexo, usuários de drogas e alguns "inocentes" - bebês e transfundidos). A construção simbólica sobre a Aids, mais do que ajudar no controle da epidemia, estigmatizava os portadores e afastava da sensibilização para a prevenção milhares de brasileiros, em especial as brasileiras, que embora vulneráveis à infecção pelo HIV não podiam se perceber como "promíscuos", "mal comportados", "quase-mortos" merecedores de tanto isolamento injustificado e discriminação.
Dez anos depois, a Aids explodiu na Ásia onde era invisível no começo da década, continua ruindo países e matando gerações na África e começa a explodir no leste europeu. Desafia ainda os formuladores de políticas de saúde norte-americanos, apesar dos milhares de dólares investidos em programas informados por teorias e abordagens que nos EUA tendem a focalizar o "risco individual" e "informação e treinamento para modificação de comportamentos", apontando como objetivo e eixo dos programas para os jovens principalmente a promoção da abstinência do sexo e das drogas. Essas abordagens não têm dado conta, nem no país mais rico do mundo, das sexualidades constantemente estimuladas pela mídia e da "sinergia de pragas" que acontece nos bolsões de pobreza e exclusão, fenômeno descrito tanto na África subdesenvolvida ou no chamado inner city das grandes cidades norte-americanas (Parker & Camargo Jr., 2000).
No Brasil5, no final do ano 2000 contávamos 191.000 casos acumulados de Aids, na proporção de 2 homens para cada mulher, e estimava-se cerca de 500.000 pessoas portadoras do vírus. Embora o epicentro da epidemia tenha sido as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, o crescimento mais acelerado se dá hoje nas cidades brasileiras com menos de 50 mil habitantes, e em todo o país mais rapidamente entre mulheres e grupos de baixa escolaridade (e renda). Apesar da distribuição universal e gratuita do chamado "coquetel anti-HIV", a Aids era a 4a causa de morte no grupo de 20 a 49 anos de idade. Certamente o empréstimo do Banco Mundial6 para políticas públicas de combate a Aids (que começou no meio da década de 90 e se encerrará em 2002) permitiu acelerar respostas em áreas estratégicas que em geral ficam sem espaço nos orçamentos públicos. Foi um empréstimo que tomou 165 milhões que serão pagos em 15 anos, e que nunca pôde ser investido no programa de acesso à medicação anti-HIV- a política do Banco Mundial para países em desenvolvimento recomendava que não se investisse em medicação, mas só em prevenção. Embora cerca de 85% dos recursos federais gastos anualmente com Aids sejam provenientes do tesouro nacional, depois do final do acordo a quantia significativa financiada pelo Banco deverá ser garantida por outra fonte de recursos para a Aids no SUS (Sistema Único de Saúde). O investimento em prevenção tem sido sempre menor do que o necessário, mas constante na década, e deverá ser absorvido nos orçamentos e políticas públicas estaduais e municipais. Dependerá, portanto, de iniciativa política além de competências técnicas.

Coincidente com a progressiva desaceleração da epidemia, que crescia a 36% na primeira década e depois de 1992 a 12% ao ano 3, foi o início da distribuição da medicação anti-retroviral gratuitamente, que não enfocaremos aqui, e a discussão de novos paradigmas para análise da epidemia. Na segunda década de epidemia (nos anos noventa), as abordagens que informavam as ações de prevenção puderam ser menos moralistas e radicalizaram sua inspiração nos princípios da Carta de Direitos Humanos, indissociáveis direitos individuais e sociais, integrando propostas que assumem que a vulnerabilidade ao HIV e à Aids é individual e coletiva. Essa visão conquistou espaço defendendo que diminuir a expansão da epidemia depende da disseminação de informações corretas e da possibilidade dos indivíduos nelas se reconhecerem usando-as para sua proteção, mas que isso não acontece independentemente das culturas, do contexto social e político de cada país, e dos programas de saúde, desenvolvimento e educação (cada vez mais dependentes da chamada "globalização"). O ponto de inflexão que abriu mais espaço para essa visão foi a 8ª Conferência Internacional de Aids realizada em 1992 em Amsterdã, e o lançamento do livro Aids no Mundo (ver, Mann & Tarantola, 1992). No Brasil tivemos a sorte de poder contribuir para essa revisão por contar com uma tradição de formulação de políticas para saúde baseada na idéia de promoção da cidadania (e não na de consumidores individuais de serviços e produtos), marcada pela tradição de educação popular e pelo pensamento social articulado com os movimentos sociais. A pressão e organização dos afetados pela epidemia a partir de grupos de ativistas por direitos humanos foram fundamentais em todo mundo e a resposta organizada no Brasil, que incluía acadêmicos e profissionais de saúde e educação, foi pioneira na construção de caminhos mais produtivos (ver, Parker

Os jovens são sempre um grupo vulnerável em todas as sociedades do mundo globalizado. Se continuarmos fazendo apenas o que temos feito, o HIV infectará cerca de 8.500 crianças e jovens por dia, seis por minuto em todo mundo8. A previsão lembrada pela fala de Mandela foi de que um em cada dois jovens vai morrer de Aids na África do Sul. Um terço das pessoas vivendo com HIV no final de 1998 eram jovens que tem entre 15-24 anos e metade das novas infecções ocorre nessa faixa etária em todo mundo. No Brasil, 70 % dos casos de Aids se concentram na faixa entre 20 e 39 anos, indicando que as novas infecções pelo HIV (que leva anos para evoluir para Aids) acontecem principalmente também entre os mais jovens. Mas a boa notícia é que onde programas de educação sexual dedicados aos jovens nessa faixa etária acontecem - com informação não-moralista, espaço para desenvolver capacidade de comunicação, consciência e mobilização pelo acesso ao preservativo - os jovens muito mais facilmente que os adultos adotam práticas mais seguras. Isso é verdade na Tailândia, Uganda, Chile, México, oeste europeu e no Brasil onde as vendas de camisinha cresceram de 70 milhões em 1993 para 320 milhões em 1999 (Joint United Nations Programme on HIV/AIDS [UNAIDS], 2000).
Em 1986 menos de 5% dos rapazes brasileiros diziam que usaram preservativo na primeira relação sexual, em 1999 chegavam a 50% (aumento de 10 vezes!) (UNAIDS, 2000). A pesquisa de 1999 indicou que, entre os jovens de 16-25 anos, 87% disseram que usavam camisinha consistentemente com os parceiros casuais, 24% em todas as relações sexuais, e 90% declarou que não teria relação sexual com alguém que conheceu recentemente e se recusasse a usar o preservativo (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento [CEBRAP] / Ministério da Saúde [MS], 1999). O uso de preservativo declarado num período de 12 meses pelos participantes da pesquisa nacional é semelhante nos EUA (67%) e no Brasil (63%). Se considerarmos a última relação sexual antes da entrevista, no Brasil 59% dos homens pesquisados usaram preservativo na última relação sexual e nos EUA a taxa encontrada foi de 62%. Entre as mulheres sexualmente ativas na faixa de 16 a 25 anos, a proporção de uso de preservativo nos últimos 12 meses no Brasil é de 35% e nos EUA é de 22%.9
No final da década, foi finalmente feito um esforço importante para responder uma das maiores polêmicas no planejamento de programas voltados para jovens, preocupação de pais, religiosos e educadores: até que ponto a educação sexual que vá além da promoção da abstinência até o casamento e monogamia estimula a precocidade do sexo e a sua maior freqüência? A resposta foi estimulante para a construção de novos programas. Seus principais achados, a partir de estudos nos países desenvolvidos (UNAIDS, 1997) foram:


* Educação sexual ou para prevenção da Aids não estimula mais atividade sexual.

* Programas de boa qualidade ajudam a adiar o início da vida sexual e protegem jovens sexualmente ativos de infecções sexuais e da gravidez indesejada.

* Comportamentos saudáveis e responsáveis podem ser aprendidos

* É melhor começar a educação sexual antes do início da vida sexual - que no Brasil nas gerações mais jovens é em média aos 16 anos e para 15 % começa antes dos 14 anos (CEBRAP/MS, 1999).

* Educação sexual deve levar em conta que existem dois gêneros - masculino e feminino - e ser adaptada às diversas maneiras de ser garoto ou garota.

* A informação sobre saúde sexual tem uma vasta gama de fontes para os jovens que devem ser consideradas e conscientizadas.

* Os jovens são um grupo heterogêneo em termos de desenvolvimento e as tecnologias educativas devem ser diferentes e abertas a essa heterogeneidade.

* Os programas mais eficazes (nos países europeus e norte americanos) são programas baseados em Teorias de Aprendizagem Social; tem um currículo focalizado, tem clareza de metas comportamentais, e descrevem claramente as práticas sexuais a serem evitadas ou as mais seguras; desenvolvem atividades que iluminam as influências do contexto social no que fazemos sexualmente; criam ambientes e espaços para praticar a comunicação e a negociação do sexo seguro; estimulam franqueza nas comunicações sobre sexo; ajudam os jovens a decodificar mensagens da mídia e seus pressupostos e ideologias.

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